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  • Foto do escritorDaniela Ventura

Emails para o meu filho

Quando fui mãe, fiz um "Livro do Bebé", guardei fotos por pastas e datas e imprimi algumas para criar a sua "caixa" das memórias. Tudo para reportar, armazenar e perpétuar lembranças tal como jóias preciosas que não se podem perder.


Um dia, inspirada numa ideia alheia, criei um email para ele. Para lhe escrever, partilhar fotos, a Arte Final do meu primeiro livro e tudo o que me desse na gana! A ideia principal: ele conhecer-me como sou durante este percurso. Como fui aos 35, como sou aos 36, como serei aos 37 - e por aí fora. Agora que já conjuguei o verbo "ser" quase todo, aposto que já perceberam. Por outro lado se, por algum planeamento me fosse enquanto ele era pequeno, ele não poderia não saber quem sou. A identidade da pessoa só morre, só deixa de existir ou parece distante, se não for revelada - certo?


Um email - para abrir quando ele tiver 18 anos. Quem sabe antes - não fosse eu uma pessoa altamente impaciente e com altos índices de dificuldades em guardar estas pérolas de tão boas que são!


Quando lhe escrevo, imagino-me uma Máquina do Tempo. Caramba, sempre quis ter uma dessas! E agora, tenho! Imagino-o na secretária a ler. O que estará a pensar? Onde estarei? Como nos iremos dar? Aiiiiiiiii senhores! Ah, ah, ah, ah, ah, ah

Bem, hoje senti que me apetecia partilhar a ideia e um dos meus repertórios convosco. Aqui fica.


 


Sabias que és espectacular?

Cresces e cresces e eu babo-me e babo-me.


Ainda é assim?!?!


És um puto charila (macaco sem p*** - não tu, tu tens uma e, ultimamente, andas sempre a dizer que vais fazer xixi para cima de mim) e eu sou uma gaja orgulhosa e feliz. Estás sempre preocupado se estou contente - perguntas-me isso muitas vezes (fico contente e com medo - não quero que a minha felicidade/infelicidade te afecte demasiado ou que sintas que ela depende de ti), dizes-me várias vezes por dia que gostas tanto de mim, ajudas-me quando me vês cansada e ai de mim que fique doente - adoptas a tua persona de enfermeiro e não tenho paz. :D

Estamos no belo ano de 2020 - tinha de ser diferente, assim tão sincrónico e redondinho - e a COVID por cá continua a fazer cada vez mais associados. Cá, compreenda-se, pelo planeta Terra! Vivemos (ainda) em Algés e as pessoas lá andam nas suas vidinhas de máscara, a usarem quilos de desinfectante, sem se beijarem e tocarem e a trabalharem em salas cansadas de tanta actividade humana.


Francamente, sinto-me num filme e isso não deixa de me fascinar!


Por aqui, ainda não nos chegou COVID ao pêlo - amém. Já a avó Jú não pode dizer o mesmo. E o tio Caca também não. A tia Marta está fechada em casa, porque esteve com alguém, que esteve com alguém infectada e está toda cagada de estar doente e de não poder vir passar o Natal em família (coisa que não é recomendada - mas já ninguém aguenta estar longe das pessoas de quem gosta pelo que vai tudo ignorar o perigo e armar-se em desobedientes).


Para mim, Becas, tem sido um grande ano. Um ano emocionante e do caraças! Um ano vibrante! Nem sei como te explicar isto tudo que fervilha dentro de mim!


Sou feliz, sem dúvida que sim. Porque tu me preenches o Ser de cima a baixo, porque amo o teu pai que às vezes é uma complicação pegada mas que tem um coração lindo como a vista do cimo de uma montanha, porque me estou a sentir livre, a conhecer, a ser eu, a viver. Amo os meus dias, as pessoas, como o mundo funciona e a ordem especial do Universo. Amo criar, escrever, experienciar. Finalmente consegui livrar-me do perfeccionismo e do medo do erro e foi como despir um daqueles casacos de chumbo do raio-X.

Fiz o meu primeiro livro (olha, envio em anexo a Arte Final), tenho ideias para mais alguns, a escrita corre-me pelos dedos enquanto antes era uma borracha encravada na minha garganta. Tudo está solto e oleado. E - espanta-te - comecei a gostar de fazer desporto! Sim, eu sei: inacreditável! Vamos lá ver se continua. Ando desconfiada, pois então! Mas, ainda assim, crente. :D Sei o que fazer, como fazer e em vez de medo sinto entusiasmo.


Eu, a Rainha do Medo, despi o manto e desatei a correr de pelota só com coroa na cabeça. Quem quiser que vá reinar para esse reino, que eu cá já num quero mais.


​Beijos - filho lindo de sua mãe (ahahahahahah)

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